Descaso com a saúde no litoral caiçara do Paraná

Moradores de dezesseis comunidades, incluindo a turística Ilha de Superagui, sofrem com retirada de medicamentos, falta de profissionais, equipamentos básicos e negligência da gestão.

26 de Novembro de 2025 às 21h00

Ilha de Superagui. Reprodução/Foto: Wikipédia.

Por Teylor Lourival

Localizado no litoral norte do Paraná, o município de Guaraqueçaba abriga uma das regiões mais preservadas do país. Com pouco mais de 7 mil habitantes, a cidade é reconhecida pela vasta área de Mata Atlântica protegida e pela Ilha de Superagui, ponto turístico e patrimônio natural.

Mas, além das belezas naturais, as diversas comunidades enfrentam, além das dificuldades típicas de regiões isoladas — o deslocamento por via marítima e a distância dos grandes centros urbanos —, o descaso e a negligência da gestão na área da Saúde Pública.

O jornal O Futuro apurou relatos dos moradores e dos trabalhadores da unidade de saúde que atendem os territórios de Superagui, Ilha das Peças, Bertioga, Barbados, Saco do Morro, Tibicanga, Puruquara, Saco da Rita, Sebuí, Abacateiro, Canudal, Vila Fátima, Varadouro, Barra do Ararapira, Ararapira Velha e da Aldeia indígena Vyá, trazendo em primeira mão e de forma exclusiva a real situação das comunidades.

Há anos, a única unidade de saúde que atende os habitantes de todas os territórios citados encontra-se precarizada e sucateada, com equipamentos velhos ou quebrados, falta de profissionais e de medicamentos. Os trabalhadores da saúde ouvidos pela redação do jornal enfatizam o descaso da gestão de saúde e da Prefeitura, que ignoram as reivindicações dos trabalhadores e se negam a prestar qualquer informação que beneficiaria a atuação dos profissionais da saúde em prol da população.

Posto de Saúde de Superagui. Reprodução/Foto: Matheus Pires.

A desconfiança dos moradores é geral: por conta da falta de estrutura, por conta da ausência dos gestores e, mais recentemente, pela demissão forçada de trabalhadores da saúde que ousaram reivindicar equipamentos de melhor qualidade, maior repasse de verbas e maior assistência à população.

Sem dentista e sem farmacêutico, a situação dos moradores que precisarem utilizar o serviço público de saúde nas comunidades será ainda mais difícil. A Prefeitura, que não respondeu os contatos da nossa redação até o fechamento desta reportagem, alega falta de recursos e corte de gastos para justificar a demissão de profissionais que têm amplo apoio da comunidade.

Fica claro que a motivação das demissões é política, de trabalhadores que prestavam um serviço de qualidade à saúde do município e tiveram seu contrato cancelado por exigirem direitos básicos para os moradores. A população, por sua vez, tem se mobilizado para garantir a permanência destes trabalhadores e para assegurar os repasses financeiros à saúde.

Organizados, os moradores fizeram um abaixo assinado com cerca de trezentas assinaturas, que foi entregue na sede do município nas mãos do Conselho Municipal de Saúde na segunda-feira (24). Cientes de que as mudanças verdadeiras não virão através da caneta da Prefeitura, a comunidade tem certeza de que sua luta e mobilização trará resultados que irão refletir na qualidade do serviço público de saúde para toda a população.

A população das ilhas e comunidades caiçara de Guaraqueçaba se mostra enérgica para garantir a permanência dos profissionais, com disposição de fazer ser ouvida suas vozes pelo prefeito Sandro da Saúde (UNIÃO), que assumiu o compromisso público em campanha, no seu plano de governo, quando prometeu “investir na contratação de médicos especializados”, “ampliar a oferta de exames”, “dar suporte aos atendimentos nas ilhas”, “melhorar os atendimentos das populações costeiras”.