Jones Manoel é ameaçado por neonazistas e responde: “Não temos tempo para ter medo!’
A ameaça, marcada por um discurso nazista e diversas ofensas racistas, foi recebida por e-mail e continha uma tentativa de extorsão e ameaças de morte. Dados pessoais e financeiros do militante também foram expostos na mensagem.

Reprodução/Foto: @buzatto.raw/página de Jones Manoel no Instagram.
O comunicador popular e militante comunista Jones Manoel revelou, através de suas redes sociais, ter recebido ameaças de um grupo neonazista com atuação internacional. Segundo a nota, elaborada junto a seus advogados, a ameaça, marcada por um discurso nazista e diversas ofensas racistas, foi recebida por e-mail, no dia 20 de agosto, e continha uma tentativa de extorsão e a sugestão de que ele estaria “na linha da bala por mais de 6 meses”. Dados pessoais, incluindo informações sobre seus familiares, e financeiros, obtidos de forma ilegal, também foram expostos na mensagem.
As ameaças surgem em decorrência do crescente destaque do militante do PCBR e de suas intervenções no debate público brasileiro. No último mês, após uma expressiva ascensão de seu número de seguidores em redes sociais, decorrente da visibilidade dos debates nos quais veio participando, Jones Manoel teve suas contas no Instagram e Facebook derrubadas sem explicações. Antes da remoção de suas contas, operada pela big tech estadunidense Meta, os números do comunicador marxista já chegavam a 1 milhão de seguidores no Instagram e seu portal de notícias no YouTube, o canal Farol Brasil, atingia a marca de 500 mil inscritos.
O ato de censura sobre suas redes gerou grande repercussão e uma onda de solidariedade pública, com figuras da cultura, movimentos sociais, parlamentares e partidos políticos de esquerda exigindo a recuperação de seus perfis nas redes. As contas foram restabelecidas dois dias depois, novamente sem qualquer tipo de explicação, pela big tech sediada no Vale do Silício, nos EUA. Após a retomada das contas, seus números mantiveram a tendência de alta, com seu perfil no Instagram chegando a 1,3 milhões de seguidores e mais de 550 mil inscritos em seu portal no YouTube.
As ameaças nazistas
O grupo neonazista que reivindica as ameaças de morte contra o militante comunista é a Brigada Hitlerista Brasileira (Attomwaffen Brasil), uma organização neonazista e terrorista com atuação internacional. Fundada em 2015, nos Estados Unidos da América, a rede da qual o grupo de supremacistas brancos pertence é conhecida por adotar métodos terroristas e de ameaças a jornalistas e ativistas das lutas antirracistas. Reportagens acerca da atuação dessa rede nos últimos anos demonstram que o grupo tem foco em recrutar jovens em fóruns online de extrema-direita, mas também já realizou campanhas de recrutamento em universidades.
Para além da particularidade do grupo que efetuou as ameaças, o modus operandi de coleta de informações e de envio de ameaças por e-mail é semelhante a casos recentes que envolveram as deputadas Duda Salabert (PDT-MG) e Taliria Petroni (PSOL-RJ). A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) foi outra liderança do campo progressista que também recebeu, recentemente, ameaças de conteúdo semelhante através de publicações no X (antigo Twitter). Todas foram ameaças realizadas após o brutal assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSOL do Rio de Janeiro, em 2018.
Esses são apenas alguns dos casos, dentre os de maior visibilidade na imprensa, relativos a ameaças à lideranças identificadas com a esquerda e com lutas anti-opressão no país nos últimos anos. O Brasil apresenta uma recorrência histórica de casos de violência política contra lideranças de movimentos sociais e da esquerda, seja na cidade, no campo ou na floresta. Em meio ao crescimento da extrema-direita no país, se explicitam ainda mais os relatos de crescimento de grupos neonazistas e de milícias rurais financiadas por grandes latifundiários, bem como dos métodos violentos dos quais se utilizam.
A luta comunista frente às ameaças
Em entrevista ao programa Brasil Urgente Pernambuco, da TV Tribuna – afiliada ao Grupo Bandeirantes no Estado –, Jones Manoel afirmou que a tática nazista de intimidação, historicamente utilizada por grupos supremacistas, não surtirá efeitos em sua atuação política. O militante indicou que buscará a denúncia mais ampla possível e a garantia de segurança para si e seus familiares, também citados na ameaça.
Parte dos dados elencados na mensagem contida no e-mail não eram públicos, o que levanta a possibilidade de hackeamento ou de vazamentos de dados operados por algum servidor público que tenha conexão com o grupo. Ainda que não seja a primeira ameaça sofrida, o comunicador marxista relatou que o grau de detalhamento dos dados o faz considerá-la a mais grave já recebida.
O militante cobrou também, como vem fazendo em outras intervenções públicas, uma investigação séria – não apenas em seu caso – que garanta a punição e prisão dos responsáveis por esses grupos que “pregam discurso de ódio e atacam minorias, o movimento feminista, o movimento negro e o movimento LGBT”.
Em declaração ao site Alma Preta, ao comentar sobre os próximos passos da luta política em meio às denúncias, o militante do PCBR afirmou:
"Como disse Marighella, nós, comunistas, não temos tempo para ter medo. A gente tem tarefas urgentes para cumprir na luta pela Revolução Brasileira e pelo poder popular, e vamos enfrentando todo tipo de ameaça, venha de onde vier."