Mercado Livre realiza perseguição sindical e demissões em massa após reivindicações de trabalhadores
O Mercado Livre vem demitindo trabalhadores que participam das reuniões do atual sindicato para votar nas reivindicações da categoria, em condições diversas.

Centro de distribuição do Mercado Livre em Cajamar - Reprodução/Foto: Mercado Livre / Divulgação
No início de 2025, eclodiram em todo o país denúncias de funcionários do Mercado Livre (Meli) que acusam a empresa de realizar demissões em massa, perseguir sindicalistas e adotar práticas anti-trabalhistas, especialmente após a participação de trabalhadores em assembleias promovidas pelo Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação (SINDPD-SC) para deliberar sobre uma nova Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). Os relatos, obtidos por militantes do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) e pelo Movimento Luta de Classes (MLC) na região metropolitana de São Paulo, expõem um quadro de pressão constante contra aqueles que se organizam para reivindicar direitos trabalhistas.
Há um ano, trabalhadores e trabalhadoras do setor de tecnologia do Mercado Livre (Meli) se mobilizam após a empresa ter colocado novos aditivos contratuais de forma completamente unilateral, além da mudança forçada de sindicato (do SINDIESP para o SINDPD-SC), da quitação do contrato de trabalho por R$100 e da exigência de presencialidade em São Paulo sem custear deslocamento nem hospedagem. A partir disso, o Meli vem demitindo as pessoas que participam das reuniões do atual sindicato para votar nas reivindicações da categoria, em condições diversas. Uma trabalhadora denunciou que, após retornarem de licença médica, licença maternidade ou licença por burnout, as classificações desses empregados caem, e, em seguida, acabam sendo sumariamente demitidos. Ela ainda relatou, por exemplo, o caso de um trabalhador que, em alguns dias da semana, realizava tratamento de quimioterapia e foi classificado na avaliação de baixa performance, resultando, por fim, em sua demissão. Quando a empresa foi questionada sobre a situação, afirmou tratar-se de um 'caso isolado'.
Ainda quando a primeira proposta de CCT estava em andamento, o Mercado Livre passou a adotar decisões que prejudicaram os trabalhadores de fora de São Paulo, obrigando-os a comparecer presencialmente à empresa na cidade. Ao usar a presencialidade como uma imposição, a empresa deixou de abrir vagas para funcionários que não residem em São Paulo e, para aqueles que ainda permanecem e denunciam a falta de custeio de passagem e hospedagem, a única alternativa é a demissão, com a justificativa de que não se alinham à 'cultura da empresa'. Esse é, sem dúvida, o aspecto mais conflituoso da situação, tendo gerado até vaquinhas internas entre trabalhadores do Rio Grande do Sul para ajudar os colegas do Ceará a arcar com os custos de deslocamento até São Paulo, a fim de não perderem seus empregos. São trabalhadores pagando para trabalhar.
Além das demissões sem justa causa, há ainda denúncias de censura e infiltração. Hoje, os funcionários do Mercado Livre não podem ter contato direto com o RH, já que a empresa tem usado um chatbot chamado People Chat que muitas das vezes não funciona ou, simplesmente, não os direciona para dialogar com o RH. Houve também o apagamento dos e-mails do sindicato, que os convocava para a votação da CCT, da caixa de entrada dos funcionários e uma tentativa, por parte dos advogados da empresa, de infiltração nas assembleias.
Neste contexto de perseguição, especialmente após a assembleia sindical que deliberou sobre a aprovação de uma CCT com melhorias salariais e condições de trabalho remoto, embora a empresa tenha negado qualquer irregularidade, surgiram diversos relatos que expuseram seu padrão de intimidação. Diante disso, é imprescindível que, enquanto classe trabalhadora, unamos forças para combater os abusos relacionados aos aditivos contratuais e ao assédio moral. Precisamos fortalecer a visibilidade dessas denúncias, ampliando sua divulgação entre os trabalhadores e, urgentemente, traçar uma estratégia para avançar na luta pela redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais, com a escala 4x3, beneficiando todos os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.