EDITORIAL: Nem austeridade, nem conciliação!

O desafio colocado para 2026 é claro: somente a mobilização dos trabalhadores, de forma organizada, pode enfrentar o avanço da extrema-direita, a política de austeridade e o ataque coordenado da burguesia aos direitos sociais. A disputa real não se dará nos palcos eleitorais, mas nas ruas, nos locais de trabalho e estudo.

1 de Dezembro de 2025 às 15h00

Ato na Avenida Paulista, em São Paulo, contra a chacina no Rio de Janeiro. Foto: Madu de Sousa / Jornal O Futuro.

Caminhamos para o fim de mais um ano marcado por uma profunda ofensiva burguesa não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Essa ofensiva é a expressão de uma conjuntura de mobilização de governos e instituições para aprofundar ajustes e atacar os direitos da classe trabalhadora. Expressão disso é a recente derrota do peronismo nas eleições legislativas argentinas, consolidando o projeto ultraliberal de Javier Milei, que tem fortalecido um laboratório regional de ataques econômicos e repressão política.

Um possível balanço inicial para o final de 2025 revela ainda mais elementos sobre aquilo que denunciamos ao longo do ano: mesmo diante do agravamento das condições da classe trabalhadora, o governo opta pela austeridade. De outro lado, a prisão de Bolsonaro e aliados golpistas não conteve o avanço da extrema-direita, que segue operando como ala de choque da grande burguesia, enquanto o governo Lula-Alckmin reforça sua conciliação, enviando ao Congresso um reajuste do salário-mínimo menor que o previsto e aprofundando cortes orçamentários. A política econômica, guiada pelo Banco Central, reafirma seu papel: proteger os investidores e punir a classe trabalhadora, seja pela manutenção de juros altos, seja por chantagens que legitimam mais ataques.

As empresas, amparadas por esse ambiente, intensificaram sua exploração. O Nubank, símbolo do “novo capitalismo de liberdade”, impôs o retorno presencial e expôs a contradição entre a retórica da inovação e a prática de controle e precarização. No setor financeiro, o Banco do Brasil pressiona por aumento da jornada de trabalho, enquanto o Banco Central insiste em regras que sacrificam quem produz para garantir lucros recordes aos rentistas.

Mas 2025 também foi o ano em que a resistência mostrou sua força, ainda que de maneira desigual e fragmentada. As mobilizações dos trabalhadores contra a Reforma Administrativa reacenderam a luta por direitos e barraram parte da agenda mais agressiva. A denúncia dos moradores da Penha e do Alemão após a chacina histórica revelou, mais uma vez, que nas periferias brasileiras é necessário denunciar o terrorismo do Estado burguês e enfrentar a militarização a serviço do capital. No campo da educação, o escândalo do ENEM mostrou que a disputa não é apenas sobre fraude, mas sobre um modelo de ensino superior que tem como fundamento principal a exclusão de uma parcela significativa da sociedade.

O desafio colocado para 2026 é claro: somente a mobilização dos trabalhadores, de forma organizada, pode enfrentar o avanço da extrema-direita, a política de austeridade e o ataque coordenado da burguesia aos direitos sociais. A disputa real não se dará nos palcos eleitorais, mas nas ruas, nos locais de trabalho e estudo.