A “Geração Z” busca maiores salários, mas não acredita mais em aposentadoria e estabilidade

Pesquisa revela que a maior prioridade dos jovens para a escolha de um trabalho é o nível de remuneração, muito mais do que flexibilidade de horários. Porém, suas expectativas de aposentadoria e estabilidade financeira são baixas.

9 de Dezembro de 2025 às 20h40

Reprodução/Foto: Fernando Frazo/Agência Brasil.

No último mês de setembro, foi realizado um estudo produzido pelo Sistema Indústria (CNI, SESI, SENAI e IEL) e conduzido pelo Instituto de Pesquisa Nexus, com o tema “Jovens e o Futuro da Indústria Brasileira”. Os dados revelam realidades importantes às quais estão submetidos os jovens brasileiros quanto aos seus interesses no mundo do trabalho e suas perspectivas. A atenção aos jovens da chamada “Geração Z” vem tomando lugar de disputa política e ideológica dentro do mercado de trabalho brasileiro.

Um dado revelador foi o que diz respeito ao que mais os jovens valorizam em uma área de emprego. Entre os resultados estão “Ambiente de trabalho tranquilo e acolhedor” (14%), “Estabilidade no emprego” (19%) e, em primeiro lugar, “Salário” (41%). Ainda entre as respostas, apenas 15% marcaram “Flexibilidade de horário de trabalho”, o que apresenta uma informação importante que contrasta com as afirmações genéricas feitas por empresas, lobbies e pela imprensa hegemônica, que caracterizam a “Geração Z” como uma geração que prioriza horários flexíveis em detrimento da estabilidade.

Em matéria da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), são apresentados supostos “valores” atribuídos com frequência à Geração Z e a forma como eles deveriam dialogar com os “valores das empresas”. Entre esses valores costuma-se listar o “Propósito”, segundo o qual os jovens buscariam “empregos e marcas alinhadas com seus valores pessoais” mais do que salários. Também costuma ser citada a “Flexibilidade” como uma das principais preferências da juventude trabalhadora. Trata-se de um discurso do senso comum, sem embasamento em pesquisas, que reforça a ideia de que as novas gerações estariam mais alinhadas a modelos de trabalho flexíveis e orientados por afinidades pessoais, em detrimento de planos de carreira, estabilidade e remuneração.

Por outro lado, em outra matéria da própria FIESC, desta vez baseada na pesquisa do Nexus, é possível observar como os dados são incontornáveis. Por exemplo, a remuneração é considerada mais importante do que a flexibilidade de horário; e, embora 66% dos jovens considerem o modelo híbrido atrativo, 55% dos entrevistados afirmaram que não assumiriam cargos com horários mais flexíveis caso isso significasse salários menores. Na verdade, a remuneração baixa (50%) e o estresse no ambiente de trabalho (28%) são os principais motivos para a troca de emprego.

A prioridade salarial em detrimento da chamada “flexibilidade” é tamanha que, mesmo com 2/3 dos jovens considerando modelos híbridos atrativos e mesmo que isso signifique mais tempo livre, a maioria prefere manter uma rotina mais rígida se isso ainda lhes garantir remunerações maiores. Isso é especialmente evidente entre os que têm entre 25 e 29 anos: 41% procuram vagas no setor industrial justamente por perceberem as indústrias como empregadoras sólidas, estáveis e com bom retorno financeiro.

A “imaturidade” da “Geração Z” de acordo com as empresas

Os veículos de mídia costumam falar da juventude trabalhadora da Geração Z de forma pejorativa. São vistos como intransigentes, imaturos, ansiosos e tratados como pequenos adultos que “não suportam” a carga e a seriedade do trabalho empresarial.  Alguns afirmam que uma das maiores queixas dos setores empresariais, por exemplo, é o fato de que são muito “insubordinados”, por exemplo. Ou que muitos abandonam seus empregos como forma de “vingança” ou por não enxergarem propósitos pessoais nas carreiras.

A intenção desse discurso pode passar despercebida, mas têm como objetivo descredibilizar as exigências feitas pelos jovens trabalhadores quanto às suas condições de trabalho e, principalmente, eximir as empresas de ter responsabilidade sobre o tratamento com os funcionários e com a próprio vínculo empregatício. Desvia-se o olhar das causas reais do abandono dos postos de trabalho (baixos salários, abusos, desvio de função, jornadas exaustivas e escalas desumanas, como a 6x1) e responsabiliza o jovem trabalhador de forma individual.

Além disso, a propagação do discurso de responsabilização individual caminha junto do incentivo à “flexibilização” do trabalho. Em nome da idealizada “autonomia”, são direcionados aos trabalhos de entrega por aplicativo, das pejotizações e para se tornarem Microempreendedores Individuais (MEIs) prestadores de serviço para as grandes empresas. Ou seja, ao invés de lutar por seus direitos de trabalhador, vende-se para o jovem o discurso de que ele pode conquistar sua autonomia, através justamente do negligenciamento dos seus direitos e da flexibilização do vínculo de trabalho.

Preocupações que estão fora do horizonte da juventude

Dentre algumas discussões feitas pela mídia, uma delas não é tratada: apesar de “Salário” e “Estabilidade no Emprego" estarem entre as prioridades da juventude trabalhadora, algumas como “Aposentadoria” e "Estabilidade” são menores quando comparadas com as das gerações mais velhas.

De acordo com a pesquisa do Nexus, enquanto 19% dos jovens que possuem entre 14 e 29 anos buscam estabilidade no emprego, 25% dos adultos (dos 30 aos 59 anos) buscam a mesma prioridade. A discrepância é maior quando comparado a prioridade de plano de aposentadoria: para os jovens, ela está em 9º lugar na lista de prioridades num emprego (8%), enquanto que para os adultos ela se apresenta como 2º lugar nas prioridades (25%).

Esse baixo nível de prioridade é consequência direta das reformas trabalhista e da previdência, realizadas ao longo da última década. Acompanhadas de uma forte campanha midiática para justificá-las, a juventude cresceu ouvindo e reproduzindo discursos que demonizam a previdência social, ou vivenciando a rotatividade no emprego. Aos poucos, essa demanda vai sendo reduzida e desaparecendo do horizonte das atuais gerações, o que representa um enfraquecimento da luta e da mobilização da juventude trabalhadora brasileira.