Mães do Curió desafiam a impunidade do Estado no Ceará
O caso, assim como diversas chacinas orquestradas pela polícia militar, demonstra a real função dessa instituição: o extermínio da população pobre e periférica, majoritariamente negra, e repressão contra movimentos populares que visem criticar a ordem burguesa vigente.

Mães do Curió No último júri popular Reprodução/Foto: Camila Soares/Alece.
Após uma década do crime, ocorreu no dia 25 em Fortaleza o penúltimo julgamento dos policiais militares acusados de envolvimento na chacina do Curió, onde sete pessoas foram feridas e onze mortas pelas mãos da polícia militar do Ceará, que se organizaram para invadirem, alguns com capuzes e placas de carro adulteradas, a comunidade. Dentre os mortos, estavam nove jovens entre 16 e 19 anos, escancarando a brutal realidade das intervenções policiais nas comunidades brasileiras.
Com o decorrer da investigação, denúncias de tortura e omissão por parte dos agentes militares de segurança foram realizadas. Tendo ocorrido em diversos bairros da grande Messejana, mas principalmente no bairro do Curió, no total 44 policiais militares tiveram prisão preventiva decretada em agosto de 2016, quase um ano após a chacina, ocorrida entre a madrugada dos dias 11 e 12 de novembro do ano anterior. Apesar da punição inicial, o julgamento estava longe de ser encerrado. Ao longo de 2017, diversos dos policiais militares passam a responder em liberdade, algo que promove sério risco a familiares e pessoas da comunidade que realizam a denúncia dos crimes cometidos. Para manter a mobilização necessária frente à pauta, foi fundamental o papel do movimento de mães do Curió, que cobram justiça pelos assassinatos e torturas sofridos por seus filhos nas mãos do Estado.
Dando um exemplo de organização, nos anos que se seguiram o movimento de mães continuou divulgando os crimes realizados e cobrando por justiça, aguardando o júri popular, que só teria sua primeira sessão em 2023. Nela, quatro dos policiais foram presos com 275 anos de prisão para cada. Porém, o mesmo não se deu para todos os policiais envolvidos: nos meses seguintes, diversos foram absolvidos ou condenados parcialmente, não tendo a pena executada por completo.
O caso, assim como diversas chacinas orquestradas pela polícia militar, demonstra a real função dessa instituição: o extermínio da população pobre e periférica, majoritariamente negra, e repressão contra movimentos populares que visem criticar a ordem burguesa vigente. Mesmo com uma longa década de espera por justiça, as mães do Curió não se rendem: presentes nos julgamentos e mobilizações populares, continuam denunciando a barbárie sofrida por aqueles que os oficiais de segurança do estado julgaram passíveis de extermínio. Como bem está escrito em suas bandeiras e camisas, cada mãe proclama “transformei meu luto em luta”, enquanto cobram por punição, justiça, e reparo, em um país que por 500 anos, sua burguesia e seus capangas exterminam a população negra e pobre. O próximo julgamento, marcado para dia 25 deste mês, irá pôr em teste novamente os limites da justiça burguesa, que nesse e em diversos outros casos, inocenta policiais militares envolvidos em chacinas, direta ou indiretamente.