Em crise, governo do DF inventa inimigos com o “Dia das Vítimas do Comunismo”

Enquanto o Governo do Distrito Federal inventa inimigos, o povo continua sem metrô, sem médico e sem governo.

26 de Outubro de 2025 às 15h00

Reprodução/Foto: BRENO ESAKI/METRÓPOLES.

Enquanto o transporte público desmorona, os hospitais enfrentam filas intermináveis e as escolas sofrem com falta de estrutura, o governador Ibaneis Rocha (MDB) e sua vice, Celina Leão (PP), decidiram gastar tempo e dinheiro público para sancionar uma lei que cria o “Dia da Memória das Vítimas do Comunismo” no calendário oficial do Distrito Federal. A data, proposta pelo deputado bolsonarista Thiago Manzoni (PL), será celebrada em 4 de junho e, segundo o texto, deverá “proporcionar reflexão acerca dos danos à humanidade causados pelas ditaduras comunistas”.

A criação do “Dia das Vítimas do Comunismo” só foi possível graças ao apoio maciço da base conservadora da Câmara Legislativa do DF (CLDF), que aprovou o projeto em 30 de setembro com 16 votos favoráveis. Entre os entusiastas da proposta estavam parlamentares alinhados ao bolsonarismo e à extrema direita local. Apenas cinco deputados votaram contra essa aberração política: Gabriel Magno (PT), Fábio Félix (PSOL), Chico Vigilante (PT), Dayse Amarílio (PSB) e Ricardo Vale (PT). Vozes isoladas que tentaram lembrar ao plenário que o DF enfrenta fome, desemprego e crise nos serviços públicos.

Na prática, a medida soa como escárnio diante da população que enfrenta a precariedade cotidiana da capital federal. “Essa é uma prática política de grupos oportunistas, que tentam criar uma alucinação ideológica para não discutirmos os verdadeiros problemas da cidade. Estamos vendo o sucateamento do metrô, que está sendo preparado para a privatização, assim como já foi feito com a rodoviária. A cidade está passando por um processo de privatização dos espaços públicos e deterioração dos serviços essenciais”, ironiza o professor Jacques de Novion, do Departamento de Estudos Latino-Americanos da UnB, em entrevista concedida à jornalista Brunna Ramos, do Brasil de Fato. Para ele, a criação da data é “uma alucinação ideológica” usada por grupos oportunistas para desviar a atenção dos verdadeiros problemas da cidade.

O professor, em entrevista ao Brasil de Fato, lembra que o governo Ibaneis-Celina demonstra, há anos, aversão ao serviço público e negligência com os mais pobres. “A recusa do governador em aceitar novas ambulâncias para o SUS mostra claramente que eles têm aversão à saúde pública. Eles têm nojo de professores da rede pública e tentam militarizar tudo, como se vê com as escolas cívico-militares, que já foram condenadas por organismos internacionais”, afirmou. Enquanto isso, a população trabalhadora enfrenta tarifas altas, transporte precário e um custo de vida cada vez mais insustentável.

A ironia é ainda maior quando se observa o apagamento histórico promovido por essa política simbólica. “Gostaria de saber quem são as vítimas do comunismo no Distrito Federal. Foram os que acamparam em frente a quartéis? Os que tentaram colocar uma bomba no aeroporto? Os que destruíram a sede dos Três Poderes? Porque, para mim, as vítimas reais foram Honestino Guimarães, Paulo de Tarso, os professores demitidos da UnB, o radialista Mário Eugênio, entre tantos outros que sofreram com a ditadura militar”, questionou Jacques, também em entrevista ao Brasil de Fato. O professor sugere que, se o governo realmente se importasse com a memória, criaria um dia para lembrar os 700 mil mortos da pandemia, as vítimas do racismo, do feminicídio e da pobreza. Tragédias reais que continuam a assombrar Brasília.

Ibaneis e Celina confirmam, ao sancionar essa lei, que o governo do DF prefere governar pela cortina de fumaça ideológica, alimentando fantasmas para esconder a incompetência do presente. Enquanto o GDF inventa inimigos, o povo continua sem metrô, sem médico e sem governo.