Servidores públicos do Paraná acumulam quase uma década de perdas salariais

Mesmo após o reajuste de 5,79% concedido em agosto de 2023, a data-base — que deveria ser aplicada todo 1º de maio — segue atrasada e sem perspectiva de correção integral. Desde 2016, a perda acumulada do poder de compra ultrapassa 35%, segundo estimativas de sindicatos do funcionalismo estadual.

21 de Outubro de 2025 às 21h00

Ratinho Junior e Jair Bolsonaro — Reprodução/Foto: Rodrigo Felix Leal/ANPr.

Por João Oliveira

Os servidores públicos do Estado do Paraná vivem uma das piores defasagens salariais do país. Mesmo após o reajuste de 5,79% concedido em agosto de 2023, a data-base — que deveria ser aplicada todo 1º de maio — segue atrasada e sem perspectiva de correção integral. Desde 2016, a perda acumulada do poder de compra ultrapassa 35%, segundo estimativas de sindicatos do funcionalismo estadual.

Durante quase uma década, a política de congelamento salarial imposta pelos governos estaduais — e aprofundada pela gestão de Ratinho Jr. (PSD) — tem corroído o orçamento de professores, profissionais da saúde, policiais civis, bem como do conjunto dos servidores públicos estaduais. A reposição de 2023, anunciada com alarde pelo Palácio Iguaçu, mal compensou a inflação de um único ano, deixando para trás uma longa fila de reivindicações ignoradas.

O congelamento da data-base não é um caso isolado. Desde 2016, os governos estaduais vêm aplicando a mesma cartilha: ajuste fiscal à custa dos trabalhadores. No Paraná, Ratinho Jr. complementa essa política com privatizações, como a venda de ações da Companhia Paranaense de Energia (Copel), a privatização da Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar) e o avanço sobre direitos históricos do funcionalismo, como a aprovação da Lei Complementar 217/2019 que acabou com a licença-prêmio para os servidores estaduais.

Ao mesmo tempo em que alega falta de recursos para recompor os salários, o governo mantém isenções fiscais bilionárias a grandes grupos econômicos e amplia o endividamento para financiar obras voltadas ao capital privado. Na prática, o Estado tem atuado como gestor dos interesses empresariais, enquanto o serviço público é precarizado e os servidores, desmoralizados.

Entidades como a APP-Sindicato, o SindSaúde-PR e a FES (Federação dos Sindicatos do Paraná) denunciam que o governo estadual se recusa a abrir mesa de negociação permanente e ignora os acordos firmados com as categorias. Em diversas cidades, assembleias e paralisações têm sido organizadas para exigir a reposição integral das perdas e o respeito à data-base.

Numa entrevista divulgada pelo Jornal Plural, quando questionado sobre as manifestações realizadas pela APP-Sindicato, que é o sindicato que representa os trabalhadores em educação pública do Paraná, o governador ironizou: “Eles tem que fazer manifestação mesmo, porque eu não atendi eles há sete anos e não vou atender.”

A política de arrocho salarial revela o projeto de classe do governo Ratinho Jr.: um Estado mínimo para o povo e máximo para os empresários.

Enquanto o governo insiste no discurso do “equilíbrio fiscal”, a realidade mostra que há dinheiro — mas ele está sendo desviado para os bolsos dos grandes empresários e banqueiros. A luta dos servidores do Paraná é, portanto, parte da luta nacional contra o neoliberalismo.