Após 25 anos, Evo Morales deixa Movimiento Al Socialismo (MAS)
Em 2023, a Justiça da Bolívia decretou que os presidentes só poderiam exercer o cargo por dois mandatos. Mesmo assim, o ex-presidente por quatro mandatos anunciou nesta quinta-feira (20) que disputará as eleições presidenciais do país de 2025 pelo partido Frente para Vitória (FPV).

(Brasília – DF, 05/12/2017) Discurso do Presidente Plurinacional da Bolívia, Senhor Evo Morales, durante o Almoço em sua homenagem oferecido pelo Presidente da República, Michel Temer. Foto: Alan Santos/PR
A posição de Evo Morales marca o rompimento definitivo do político com o Movimiento Al Socialismo (MAS), o qual fundou há 28 anos. Dessa forma, o ex-presidente se juntou ao partido Frente para a Vitória, uma pequena formação sem representatividade no Parlamento boliviano.
Antes da formalização de sua desfiliação, Evo Morales já se encontrava distante do MAS e do governo de Luis Arce. Morales liderava o partido MAS desde 1998, contudo, o partido se dividiu entre “arcistas” e “evistas”. Os precedentes a essa polarização dentro do MAS se encontram no golpe de 2019, que ocorre após Morales insistir em concorrer a um quarto mandato consecutivo. O golpe leva a senadora de direita Jeanine Añez ao executivo. Apenas um ano depois os bolivianos são capazes de escolher o próprio futuro político.
Nesse contexto de primeira eleição presidencial após a tomada de poder pelo golpe civil-militar, Luis Arce (MAS), pupilo de Morales que havia sido obrigado a se exilar na Argentina, é eleito presidente da Bolívia. Arce representa a renovação do MAS, que é a legenda à esquerda capaz de disputar a política local. Luis Arce foi ministro da Economia durante o governo de Morales, sendo percebido como uma possível sucessão à Evo Morales. Sua eleição ao executivo o leva a se consolidar como uma nova liderança do partido.
A partir das eleições de 2020, os interesses políticos de Arce e Morales passam a divergir. Em junho de 2024 a Bolívia sofre uma tentativa de golpe fracassada com baixa adesão das Forças Armadas, Evo Morales chega a insinuar que a ação teria sido orquestrada. Um ponto de não retorno entre a relação dos candidatos ocorre quando Luis Arce propõe formalmente a realização de um referendo acerca da prorrogação da reeleição presidencial, abordagem rejeitada por Evo Morales. A crise interna motivada pelas divergências entre os dois candidatos se acirra ao ponto de Evo Morales afirmar em fevereiro de 2024 que Arce é “um traidor”, que “procura proscrever o MAS”, e o governo “foi para a direita”.
Na tentativa de mudar os ministros do governo Arce, Morales chegou a marchar junto a apoiadores no movimento que ficou conhecido como “Marcha para salvar a Bolívia”. Nesse movimento, Morales demandava a troca de ministros em 24 horas, “se [Arce] quiser continuar governando”. Milhares de bolivianos participaram da marcha que partiu da cidade de Caracollo, a 280km da capital, em 17 de setembro de 2024. O ato, ao final, contou com 36 feridos, após confrontos com a polícia. Evo Morales se pronunciou ao final da manifestação dizendo que o ato tinha como objetivo acabar com a “traição e acima de tudo a corrupção, a proteção do tráfico de drogas e a má gestão”. O protesto terminou em frente ao edifício da Cervecería Boliviana Nacional (CBN), com um palco onde Evo discursou. O Ministério das Relações Exteriores respondeu às declarações de Evo Morales, condenando a ação do ex-presidente e entendendo como “ameaça interromper a continuidade da ordem democrática”. O governo de Arce condenou a coação contra a vontade do povo manifestada nas urnas.
A marcha teve como estopim a questão energética. A Bolívia sofre com a escassez de combustíveis, enfrentando problemas como o fornecimento de gasolina e gás desde 2023. Para além disso, o Estado também não conta com uma reserva de dólares, visto que a exportação de gás para o exterior enfrentou queda, levando a diminuição da entrada de divisas no país. Simultaneamente, a queda da produção da gasolina e do diesel levou ao aumento geral do preço dos combustíveis, levando a importação da gasolina a 56% e a do diesel a 86%. Para custear essas importações, Arce usou parte das reservas internacionais, ocasionando a desvalorização do peso boliviano.
Nesse cenário, os trabalhadores bolivarianos enfrentam o aumento do custo de vida e a escassez dos combustíveis, recebendo como resultado da disputa entre Arce e Morales apenas uma esquerda representativa cada mês mais fragmentada e rebaixada.