Prefeito de São Bernardo do Campo (SP) é afastado por suspeita de corrupção

Operação da PF joga luz sobre uma intrincada rede composta por burgueses, mandatos e servidores públicos, dedicados a desviar dinheiro de contratos com a administração pública.

22 de Agosto de 2025 às 21h00

Da esquerda para a direita, Orlando Morando (Ex-prefeito de SBC e atual Secretário de Segurança Pública da cidade de São Paulo), Marcelo Lima, Ary de Oliveira (vereador envolvido na investigação, ainda não afastado do cargo) e Jéssica Cormick (atual prefeita em exercício), 2024. Reprodução/Foto: Folha do ABC.

Na manhã da quinta-feira passada (15), o TJ-SP e Ministério Público deram aval para que a PF decretasse a operação Estafeta, responsável por investigar indícios de desvio de dinheiro público através de contratos com a prefeitura de São Bernardo do Campo. O prefeito Marcelo Lima (Podemos) e seu primo e presidente da Câmara Municipal, Danilo Lima (Podemos), foram afastados de seus cargos por suspeita de corrupção, fraude em licitações e desvios milionários de contratos com a prefeitura.

O servidor comissionado Paulo Iran era o principal operador financeiro do esquema, alocado no gabinete do Dep. Estadual Rodrigo Moraes (PL), foi encontrado com R$ 14 milhões e alguns milhares de dólares na sua residência em SBC, além de diversas anotações e boletos de despesas pessoais da família de Marcelo Lima. Os esquemas envolviam contratos na área da saúde, limpeza urbana e obras públicas, com operadores dentro da própria prefeitura.

As pistas encontradas em julho na residência de Iran escalaram a investigação rapidamente. Descobriu-se o envolvimento de empresários da região, como os irmãos Caio e Felippe Fabbri, Edmilson Carvalho e Luís Roberto Peralta, todos sócios de empresas que já tiveram contratos com a administração pública. Os valores estavam escondidos nas casas dos burgueses envolvidos, seja em dinheiro físico ou em itens de luxo, como dezenas de relógios. Anotações encontradas indicam diversas despesas pagas em nome da família de Marcelo Lima na casa de centenas de milhares de reais, incluindo valores recebidos durante a própria campanha eleitoral em 2024, segundo o inquérito da PF.

Olhando para as forças políticas municipais, a base do Paço se posicionou da forma mais isenta possível, defendendo ligeiramente a “idoneidade” do prefeito, mas se dizendo aberta a cooperar com as investigações e batendo na tecla de que foram todos pegos de surpresa. A Executiva Nacional do Podemos saiu em nota com uma breve defesa, de tom também moderado. Subiram o tom figuras do Cidadania, como o Dep. Federal Alex Manente (candidato para prefeito com a benção de Bolsonaro na cidade, derrotado no pleito de 2024) e o vereador João Viana, reforçando antigos problemas com a justiça do adversário e as ilegalidades da campanha em 24, que contou com apoio descarado da máquina pública de Orlando Morando no 2º Turno.

O campo petista também se apresentou em nota oficial com tom moderado, reiterando a defesa da transparência na gestão pública e não atacando Marcelo, defendendo a realização de novas eleições caso as investigações comprovem as acusações. O PT toma uma posição de defesa das instituições e não agita contra o prefeito afastado e sua gestão, enquanto seus adversários de direita fazem as duas coisas.. Por outro lado, o diretório municipal do PSOL protocolou pedido de impeachment do prefeito na Câmara, mesmo sem representação parlamentar. Deixaram clara a necessidade de cassar todos os vereadores que fossem provados ligados ao escândalo, conclamando novas eleições municipais. Agitam essa bandeira na tentativa de tomar a frente de uma campanha de esquerda que derrube a atual prefeitura e chegue com as massas minimamente mobilizadas para uma eleição municipal extraordinária.

Na prática, a gestão de Marcelo Lima é uma continuidade dos últimos 8 anos do fascista Orlando Morando no Paço Municipal, gestões das quais foi vice-prefeito e também secretário. De tom mais moderado e conciliador, não tem como núcleo duro da sua gestão a extrema-direita como o antigo prefeito, mas se coloca disposto a negociar com todos os lados do espectro político. Oportunista por excelência, não é de se surpreender que a administração municipal se tornou um lucrativo balcão de negócios da burguesia local, como já era para as grandes construtoras e empresas do setor de atacarejo nos anos passados. Hoje o efetivo da GCM de São Bernardo é o segundo maior do estado de São Paulo, tendo sido umas das primeiras no país a tentar adotar o nome de Polícia Municipal.

A prefeita interina é uma sargenta da PM, que se afastou há menos de 2 anos da corporação. Não nos esquecemos da dura repressão contra moradores das regiões periféricas da cidade durante os apagões no fim de 2024, da perseguição judicial contra movimentos populares como o Projeto Meninos e Meninas de Rua e a Batalha da Matrix, ou dos diversos casos de homicídios cometidos pela polícia contra a população. Ainda que a gestão atual tenha refreado as tensões com os movimentos sociais, nada fez para reverter os estragos causados pelo seu antecessor. Sabemos muito bem que se fosse de interesse do seu grupo, não hesitaria em nos atacar com força total para assegurar o direito da burguesia que o sustenta. O projeto de Marcelo Lima não busca combater a carestia do transporte público, hoje com uma das maiores tarifas do estado. Pouco se importa com a população de rua da cidade, que só perde em tamanho para a capital, evidenciando o grave déficit habitacional no município, onde condomínios de luxo pipocam por todos os lados. Se orgulha do predomínio das gigantes do atacarejo na economia local, que nada oferecem além de empregos 6x1 e condições desumanas de trabalho, consumindo a vida da maioria da juventude trabalhadora na região.