Marcha da Maconha em Sorocaba resiste à perseguição e completará quatro anos nas ruas

A lei municipal nº 12.719/2023, que proíbe manifestações “em defesa das drogas”, é fruto direto dessa ofensiva e já foi considerada inconstitucional pelo STF.

3 de Setembro de 2025 às 18h00

Marcha da Maconha em Sorocaba, 2023. Reprodução/Foto: Marcela Mattos Fernandes.

Por João Pedro Monteiro

No próximo dia 6 de setembro, Sorocaba realizará a 4ª edição da Marcha da Maconha, em uma crescente perseguição política na cidade.

Desde 2022, o prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) tem intensificado uma política de criminalização direta da militância antiproibicionista. A Marcha da Maconha tornou-se alvo central desses ataques, mas resiste e se consolida como o principal ato de rua da cidade, ocupando as ruas para denunciar a “guerra às drogas” como a principal ferramenta de controle social, encarceramento e extermínio da população negra desde a abolição.

A lei municipal nº 12.719/2023, que proíbe manifestações “em defesa das drogas”, é fruto direto dessa ofensiva e já foi considerada inconstitucional pelo STF. No julgamento, cinco ministros votaram contra: Gilmar Mendes (relator), Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Edson Fachin e Flávio Dino. Este último impôs apenas uma ressalva quanto à participação de crianças em eventos do tipo. A posição de Dino, que poderia representar uma conciliação tecnocrática, revela-se como um eco involuntário do moralismo da esquerda ao abordar o tema.

Entretanto, o prefeito de Sorocaba não se limitou a essa lei e transformou a cidade em um laboratório de medidas de perseguição política, como a chamada “lei anti-Palestina” que multa manifestações de “apologia ao terrorismo”.

O governo Manga articula uma política de caráter higienista e manicomial, que atravessa tanto a saúde pública quanto a repressão policial. Enquanto ataca o SUS e desmantela os CAPS, destina recursos públicos a comunidades terapêuticas privadas.

Operando a “guerra às drogas” como cruzada moral, a prefeitura promoveu remoções forçadas, desaparecimento de cobertores e de pessoas em situação de rua antes de uma frente fria, sequestro de animais e até espancamentos públicos.

Essa ofensiva também serve como mecanismo de valorização da terra urbana, em especial no centro da cidade, onde proliferam novos empreendimentos imobiliários de alto padrão, conectando a lógica do eugenismo local diretamente aos interesses do setor especulativo e da construção civil.

A experiência sorocabana não é isolada. Ela se conecta a medidas nacionais ainda mais reacionárias, como a PEC 45/2023, que propõe criminalizar usuários de drogas, e o PL 1904/2024, que pretende equiparar aborto a homicídio — ambos articulados por Arthur Lira e a bancada conservadora no Congresso.