Contra o teto de gastos e por reformas nas escolas: o 14º Congresso dos Estudantes de Fortaleza
A gestão eleita tem o dever de levar adiante a luta dos estudantes contra os ataques feitos pelos governos, capitaneados pelos empresários da educação que lucram em cima de algo que deveria ser direito de todos.

Secundaristas hasteando bandeiras durante a mesa de abertura. Foto: Jornal O Futuro.
No último dia 14 de outubro, foi realizado o 14º Congresso dos Estudantes de Fortaleza (CONEF), evento que reuniu estudantes secundaristas de mais de 100 escolas da capital do Ceará para decidir os rumos políticos e eleger a nova diretoria da União dos Estudantes de Fortaleza (Unefort). Os quase mil estudantes que participaram reafirmaram a entidade como sua representação maior na luta estudantil contra a ofensiva da classe capitalista contra a educação pública.
O CONEF ocorreu na FormaCE, contando com a mesa inicial, os grupos de trabalho (GTs), roda de capoeira, oficina de estêncil e um ato em solidariedade ao povo palestino. Desde o início do dia os estudantes entraram em contato com um rico espaço de trocas e discussões políticas. Para além do próprio movimento estudantil e as organizações que o compõem, fizeram-se presentes sindicatos de trabalhadores e parlamentares progressistas.
“Acho que foi uma das experiências mais incríveis que tive na minha jornada como estudante de escola pública. [...] Nunca tinha participado de nada do movimento estudantil, mas sempre tive interesse, foi quando surgiu essa oportunidade quando passaram na minha escola. Foi muito incrível ver tantas pessoas engajadas em discutir pautas que são tão esquecidas”, foi o relato de uma das estudantes que participaram do espaço.
A Unefort representa os estudantes secundaristas de Fortaleza desde 9 de dezembro de 1999, quando foi fundada com o objetivo de unificar as lutas dos grêmios da capital do Ceará. Desde então, a entidade participou ativamente — inclusive sendo protagonista — em diversas lutas, como na conquista das duas passagens gratuitas diárias para os estudantes de Fortaleza, da distribuição de tablets e chips de internet durante a pandemia e em defesa dos investimentos na educação, tendo realizado ao longo de sua história 13 congressos reunindo os secundaristas da cidade para discutir os rumos de sua luta política. O 14° CONEF foi realizado no ano de 2025 depois de um Encontro de Mulheres, onde grêmios estudantis de toda a cidade se reuniram para debater a política de mulheres da entidade para produzir acúmulos para o congresso, e um Encontro de Grêmios, quando foi definido a data e o regimento do CONEF.

Respectivamente: Gabriel Nepomuceno, ex-presidente da Unefort; Keth Dantas, diretora eleita para o próximo período; e profa. Adriana Almeida, vereadora de Fortaleza. Foto: Jornal O Futuro.
Foram aprovadas três moções por unanimidade. A primeira foi de solidariedade à Palestina. Essa moção adquire importância fundamental dado o contexto atual de, por um lado, intensificação do genocídio cometido por “israel” ao povo palestino, e, por outro, a crescente onda de rupturas de relações que vem ocorrendo no mundo, em especial universidades públicas brasileiras, com o estado genocida. Os estudantes de Fortaleza afirmaram no GT de Direitos Humanos do congresso que a luta do povo palestino é também sua luta, e que é dever internacionalista exigir o rompimento das relações do Brasil com o estado genocida.
Contra a chuva de veneno promovida por drones no estado do Ceará, a Unefort tomou postura firme de apoio à causa dos trabalhadores rurais e camponeses, somando-se ao movimento de Revoga Já!, que dias depois entregou uma carta de reinvidicações ao governador Elmano de Freitas, a partir de intenso protesto às portas do Palácio da Abolição.

Urna de votação para o plebiscito popular do Revoga Já. Foto: Jornal O Futuro.
Foi colocada em pauta a Reforma Administrativa, onde foi aprovado a moção contra esse retrocesso nos direitos dos funcionários públicos brasileiros. Com a presença do Sindiute e da APEOC, sindicatos de professores de Fortaleza e do Estado do Ceará, o 14° CONEF reafirmou a unidade na luta dos estudantes e da classe trabalhadora contra os ataques feitos à educação pelos empresários e pelos governos que buscam aprofundar sua ofensiva de austeridade, retirando direitos e a estabilidade de servidores públicos a partir da Reforma Administrativa e do Novo Teto de Gastos.
A experiência de participar de um congresso estudantil certamente molda novos lutadores: “Foi incrível notar como ainda existe espaço pra organização e luta de verdade, um canto onde a gente possa se articular contra os ataques que o sistema de ensino sofre há décadas, e notar também como isso é grande, como existe muitas pessoas que tão dispostas à lutar por um espaço melhor de fato no fim das contas. O que mais me impressionou foi ver a quantidade de pessoas, é perceptível que a gente (estudantes) como um grupo é algo colossal, mas ver um mar de pessoas lutando pelas mesmas coisas ainda é lindo, me fez acordar pra realidade que tem espaço pra resistência ainda hoje”, afirma Angelo, aluno e delegado da escola EEM Parque Presidente Vargas.
“A luta dos estudantes não pode ser algo separado, tem que ser unificado. Eu acredito que a Unefort seja essencial pra isso. Espero que nos próximos dois anos consigamos avançar muito, como na luta por um passe livre intermunicipal, intermodal e pra toda a classe trabalhadora”, disse Ivna Holanda, diretora da Unefort eleita no 14° CONEF. O espírito geral dos estudantes de Fortaleza demonstra que a vontade de fazer avançar a luta é enorme, e o congresso marca esse espírito dando um “gás” pra luta. O objetivo é conquistar melhorias a partir de uma luta em unidade, não só dos secundaristas, mas de toda a classe trabalhadora, como no exemplo dado pela diretora em relação ao passe livre.
A União da Juventude Comunista (UJC) apresentou ao congresso suas teses políticas, com os delegados e delegadas eleitos nas escolas, levando-as nas várias discussões dos espaços do congresso, como os GTs. O congresso aprovou, a partir das discussões entre os estudantes nos GTs, que estudantes de Fortaleza irão avançar a luta por reformas — e não somente reparos — nas escolas, pelo fim da escala 6x1, contra o Arcabouço Fiscal (Novo Teto de Gastos) e pela ampliação e intermunicipalização do passe livre. Para além de lutar para fortalecer a cultura popular, lutando pela ampliação dos equipamentos culturais de Fortaleza, promover ações de orientação sobre saúde sexual, prevenção da gravidez na adolescência e ISTs, combater o racismo, a homofobia e todas as formas de preconceito dentro e fora da escola. Essas são as bandeiras que serão levantadas pela Unefort durante essa nova gestão.

Parte da delegação da UJC no 14º CONEF. Foto: Jornal O Futuro.
Uma nova diretoria foi eleita para a entidade, sendo composta por estudantes de diferentes escolas públicas das regiões de Fortaleza. A gestão eleita tem o dever de levar adiante a luta dos estudantes contra os ataques feitos pelos governos, capitaneados pelos empresários da educação que lucram em cima de algo que deveria ser direito de todos. Essa responsabilidade será dos 82 estudantes eleitos para a diretoria — desse número, 57 são mulheres e pessoas não binárias —, tendo representantes de todas as regiões da cidade.
A expectativa gerada pelo congresso é um combustível para os próximos passos. Para Keth Dantas, estudante da EEMTI Deputado Irapuan Cavalcante Pinheiro e diretora eleita no congresso, a nova diretoria herda uma grande responsabilidade: "Que todas as expectativas sejam cessadas, que sejam dois anos produtivos politicamente, e que todos possam fazer coisas grandiosas", afirmou.
Outros estudantes responderam, em relação a nova gestão eleita, o seguinte: "Espero que a nossa nova diretoria, que agora tem duas representantes da UJC, consiga abranger toda essa expectativa da gente. Que juntos a gente consiga realmente alcançar as nossas metas e que a nossa voz continue sendo ouvida e levada adiante", disse um dos delegados da EEEP Darcy Ribeiro. A visão para o futuro é clara: levar a luta dos estudantes até às últimas consequências por melhorias. "Que nosso movimento continue crescendo mais e mais. A meta é essa e é isso", completou, reafirmando o compromisso de transformar a energia do 14º CONEF em ações concretas que fortaleçam cada vez mais a luta por uma educação pública, gratuita e de qualidade em Fortaleza.
Quando perguntada sobre o que gostaria de falar para os secundaristas de Fortaleza, a diretora Keth afirmou: “[eu diria] que eles podem participar das decisões, que é através disso que eles podem reivindicar seus direitos como estudantes. [...] Eu diria que é uma ótima oportunidade de conseguir voz, que eles tomassem conhecimento sobre essa entidade, sobre esses movimentos porque é através deles que podemos construir um mundo novo”.