EDITORIAL: Quando os trabalhadores recuperam as ruas
A aprovação dada à PEC da Blindagem, que unificou a maioria dos deputados da base do governo e a maioria dos deputados da oposição, foi um estopim para uma das jornadas mais massivas que tivemos em muito tempo. Centenas de milhares tomaram as ruas do Brasil todo e forçaram com que, na semana seguinte, o Senado recusasse por unanimidade na CCJ a proposta e engavetasse a PEC.

Manifestação contra a PEC da Blindagem no Distrito Federal. Foto: João Magnus/Jornal O Futuro.
O momento que vivemos, na política brasileira e internacional, não é para amadores. Altos e baixos têm se desenhado nas curvas da luta de classes com sucessões rápidas e com potenciais que devem ser aproveitados, com toda agilidade, pelos trabalhadores.
O final de setembro nos trouxe algumas dessas lições. Depois de meses de ataque atrás de ataque vindos do Congresso Nacional e do Governo Federal, ainda sob as ameaças de interferência política do imperialismo estadunidense, mais uma tentativa de barreira antidemocrática foi levantada com a apreciação da PEC da Blindagem (PEC 3/2021) pela Câmara dos Deputados. A aprovação dada à PEC, que unificou a maioria dos deputados da base do governo e a maioria dos deputados da oposição, foi um estopim para uma das jornadas mais massivas que tivemos em muito tempo, comparáveis às manifestações contrárias ao governo Bolsonaro em 2019. Centenas de milhares tomaram as ruas do Brasil todo e forçaram com que, na semana seguinte, o Senado recusasse por unanimidade na CCJ a proposta e engavetasse a PEC.
Ao mesmo tempo, vemos uma nova onda crescente nas jornadas de luta em solidariedade ao povo palestino. Enquanto a Flotilha Sumud segue sua jornada com dezenas de embarcações para furar o bloqueio marítimo imposto por Israel a Gaza, a classe trabalhadora italiana nos brindou com um evento fantástico: um dia de greve geral, com mais de 500 mil trabalhadores participando das paralisações e manifestações, em solidariedade à Palestina.
Em ambos casos, qual é a lição que esse momento nos deixa?
1. Que o discurso governista, reformista e social-liberal no Brasil caiu por terra e morreu de inanição depois dessa jornada: os votos da base do governo na PEC demonstram que o papo de “votar no menos pior” é votar na mesma coisa.
2. Que o mito da “falta de correlação de forças” também é balela. Quando os trabalhadores se levantam e arrastam atrás de si todos os setores descontentes da sociedade, é quando temos força para emplacar, mesmo sem qualquer sombra de maioria parlamentar, a derrota de um projeto no Senado a menos de uma semana de sua aprovação na Câmara.
3. Que toda luta que quisermos emplacar a partir de agora, inclusive reforçando a luta pela libertação da Palestina e retomando a luta pelo fim da escala 6x1 e pela redução da jornada de trabalho, devem ter esse momento da luta como paradigma e levar esses aprendizados a ferro e fogo.
Aproveitar esse momento e explicar para toda a classe trabalhadora essas lições é parte central da tarefa dos revolucionários agora, particularmente por causa do iminente resultado do “Plebiscito Popular” governista, feito para recuperar a credibilidade do governo.
Veremos em ação a diferença entre construir uma movimentação pelo compromisso com a pauta, doa a quem doer; e uma movimentação com fins eleitorais – e com um programa contrário ao aplicado pelo próprio governo.