• Assine o jonal
  • Edição impressa
  • Artigos
  • Contato
  • Quem somos
  • PCBR
  • UJC

  • Agronegócio e Clima
  • Amazônia
  • Economia
  • Editoriais
  • Internacional
  • Juventude
  • Opinião
  • Política
  • Segurança Pública
  • Sindical
  • Estudantes resistem contra projeto elitista da UnDF

    A história da Universidade do Distrito Federal Jorge Amaury começa nos anos 1990, tendo o seu primeiro registro legal em 29 de dezembro de 1992, porém ela só foi inaugurada apenas em 2022.

    5 de Maio de 2025 às 21h00

    Estudantes reunidos para fotografia após a assembleia. Foto: Jornal O Futuro.

    No último dia 14 de abril, os estudantes da UnDF, reunidos em Assembleia Geral Estudantil, decidiram pela fundação do DCA (Diretório Central Acadêmico), que representará toda a comunidade estudantil da UnDF. A fundação da entidade acontece em meio a várias lutas por permanência e democracia universitária, e é um importante marco no avanço do nível de organização dos estudantes, contribuindo para unificar as demandas e lutas da comunidade estudantil.

    Os estudantes, filhos e filhas da classe trabalhadora, enfrentam na UnDF um sério drama: uma universidade pública com projeto elitista, pensado em meio a hegemonia neoliberal nos governos do Distrito Federal encabeçados pela liderança do Governador Ibaneis Rocha e sua correia de transmissão na universidade, a reitora pró-tempore Simone Pereira Costa Benck.

    A UnDF, Universidade do Distrito Federal Jorge Amaury, é idealizada desde os anos 90, mas teve o início de sua construção de fato a partir da aprovação do Projeto de Lei Complementar nº 34/2020, enviado pelo GDF em 19 de março de 2020 para a Câmara Legislativa do DF. Esse foi um marco importante, pois o DF era uma das 5 unidades federativas que não tinham universidade pública sob sua alçada.

    Apesar disso, desde o início esse processo já começou a mostrar suas contradições, a começar pela carreira docente precarizada, mas também pelo projeto dos campus, que não inclui restaurante universitário ou estrutura de transporte para chegar ao local.

    Após a assembleia, os voluntários do Jornal O Futuro entrevistaram vários estudantes com o objetivo de entender as dores e lutas que vem sendo tocadas. Nos relatos, nos deparamos com uma realidade assustadora: evasão estudantil que chega a quase 50% em poucos semestres.

    Daniel, estudante de Gestão Ambiental, relata que sua turma da tarde reduziu de cerca de 40 estudantes para 16. Para ele, as linhas de ônibus demoram a passar, acarretando constantes atrasos. Paulo, estudante de Engenharia de Software, entende que a universidade não oferece o mínimo e relatou que esse problema levou inclusive a uma alteração no horário das primeiras aulas da manhã na UnDF, que antes ocorriam às 7:30 mas precisaram passar a começar às 8:00 após solicitação dos estudantes e dos professores.

    Já Ana Clara, também estudante de Gestão Ambiental, relata que a maioria dos colegas desistiu do curso já no início devido a grande dificuldade de acesso ao campus, que se localiza no elitizado Lago Norte, impossibilidade de se alimentar na universidade ou nas proximidades, além da restrição de horários das aulas, que somada à política ruim de assistência estudantil, transforma a universidade em uma verdadeira “máquina de expelir pobres” para fora dela.

    Essa realidade possui também uma grande incidência nos cursos de tecnologia do local, em que os estudantes reivindicaram a alteração dos projetos pedagógicos durante a greve de 2024 mas não foram respeitados. O projeto pedagógico em vigor foi realizado sem o menor tipo de contato com a comunidade.

    É evidente que esses problemas contribuem diretamente na evasão estudantil que assola a universidade. Além deles, se destaca também o problema da alimentação.

    O Campus Norte da UnDF não possui nenhum tipo de Restaurante Universitário Segundo a estudante Bárbara, de Gestão Ambiental, a única opção de refeição nas proximidades é um shopping de elite localizado próximo ao prédio em que ocorrem as aulas. Nesse local, os preços são elevadíssimos, incompatíveis com a realidade da maioria dos estudantes que se deslocam da periferia do Distrito Federal até o Lago Norte para estudar.  Quando confrontada sobre essa questão, a reitoria demonstrou resistência, negando a importância de um Restaurante Universitário. Até o momento, o único “avanço” com relação a estrutura de alimentação foi a assinatura de um projeto de licitação para a abertura de uma lanchonete, o que não resolve o problema da permanência.

    Além disso, o estudante Kauã, de Ciência da Computação, relata a falta de acessibilidade em um dos principais pontos de ônibus nas proximidades, que mesmo tendo sido inaugurado há dias não apresenta faixas de pedestre e nem rampa nas calçadas das duas pistas que precisam ser atravessadas.

    Ponto de ônibus em frente a universidade. Foto: Jornal O Futuro.

    Até pouco tempo, a Universidade sequer tinha pisos táteis, item básico de acessibilidade que ajuda a orientar pessoas com baixa ou nenhuma visão, que foram colocados recentemente após pressão da comunidade acadêmica. Além disso, não há creche e nem fraldário nos banheiros da instituição, que são estruturas importantes para garantir a possibilidade de estudo para pessoas que tem filhos, especialmente as mulheres, a quem fica socialmente relegado o trabalho de cuidado.

    A reitoria já foi comunicada dessas inúmeras questões, mas não leva a sério as demandas da comunidade estudantil porque não vê prioridade na garantia de políticas que favoreçam a juventude trabalhadora.

    A UnDF é uma das apostas do governador Ibaneis Rocha para aumentar seu prestígio junto ao eleitorado, e fortalecer a sua candidatura para o senado em 2026. Não por acaso, mantém bastante proximidade político-ideológica com seus indicados aos cargos político-administrativos da universidade.Recentemente, houve também uma movimentação golpista com o objetivo de alterar a Lei Complementar nº 987/2021, estendendo o atual mandato da reitora Simone por mais dois anos. A movimentação rompe com o que foi prometido: uma comissão eleitoral seria formada e eleições ocorreriam no ano de 2025. A atual reitora não foi eleita pelos discentes e nem pelos docentes e ocupa o cargo desde quando a UnDF foi inaugurada em 2022.

    O DCA surge em um contexto de uma série de reivindicações dos estudantes, que entram em contradição com o projeto neoliberal e excludente do GDF para a educação. Os estudantes querem entrar e permanecer na universidade, querem estrutura para ensino, pesquisa e extensão de qualidade. Foi formada uma Comissão Eleitoral, responsável por organizar o processo que elegerá a primeira gestão da entidade, e essa gestão terá o desafio de levar para toda a população do DF o debate sobre a importância de um ensino superior público que sirva aos interesses da classe trabalhadora.