Banco do Brasil: queda na PLR escancara precarização

A Participação nos Lucros e Resultados (PLR) deixou de ser um bônus ocasional para se tornar peça central na sobrevivência das famílias, ao mesmo tempo em que os altíssimos juros de empréstimos, cartões e financiamentos corroem mensalmente a renda do trabalhador, independente do resultado do banco.

20 de Agosto de 2025 às 15h00

Há décadas, o Banco do Brasil adota políticas que geram grande insatisfação entre bancários. Reprodução/Foto: Nando Neves.

O anúncio dos resultados do Banco do Brasil, na última quinta-feira (14), voltou a expor a insegurança financeira que pesa sobre seus trabalhadores. A Participação nos Lucros e Resultados (PLR), prevista para ser distribuída no dia 12 de setembro, deve cair 47% em relação ao ano passado. A redução acontece em meio a um cenário de salários rebaixados, dependência cada vez maior da remuneração variável e uma ofensiva ideológica que transforma o lucro empresarial em medida de “valorização” do trabalho.

No primeiro semestre de 2025, o banco registrou lucro líquido de R$11,2 bilhões — 40,7% menor que no mesmo período de 2024. A instituição atribui a queda a mudanças contábeis impostas pela Resolução 4966 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que alterou regras de provisionamento para perdas esperadas no crédito, atingindo especialmente operações com o agronegócio, setor estratégico para o BB. Dessa maneira, a PLR, vendida como recompensa à produtividade, mostra-se refém de fatores externos e regulatórios totalmente fora do alcance do trabalhador.

Mais do que um mecanismo de remuneração, a PLR cumpre uma função ideológica central: vincula o “sucesso” do trabalhador ao lucro da empresa, mascarando a exploração cotidiana e desviando o debate sobre o papel social de uma instituição pública. No caso do Banco do Brasil, esse discurso serve ainda para desestimular a reflexão dos trabalhadores sobre sua atuação no financiamento à desindustrialização e na intensificação do colapso climático por meio do apoio massivo ao agronegócio.

Há décadas o Banco do Brasil promove o rebaixamento da remuneração. Em 1995, o salário inicial de um bancário equivalia a 7,32 salários mínimos; hoje, representa apenas 2,61. Mesmo com alguns reajustes recentes, as perdas acumuladas em relação à inflação desde então chegam a 29,01%, segundo o ILAESE. O resultado é a precarização material da categoria: 71% dos bancários estão endividados e 10% já têm dívidas em atraso, conforme a última consulta nacional aos bancários.

O golpe mais duro da história recente veio com o programa Performa, implementado em 2020 sem qualquer diálogo com a categoria. Sob o pretexto de “modernizar” a carreira e premiar o desempenho, o banco cortou salários em até 40% e instituiu o Programa de Desempenho Gratificado (PDG), que recompensa menos da metade dos trabalhadores com base em critérios subjetivos e gera grande insatisfação na categoria. Em áreas como a Diretoria de Tecnologia, o PDG foi extinto, mas os cortes permaneceram. Nesse contexto, a PLR deixou de ser um bônus ocasional para se tornar peça central na sobrevivência das famílias, ao mesmo tempo em que os altíssimos juros de empréstimos, cartões e financiamentos corroem mensalmente a renda do trabalhador, independente do resultado do banco.

Enfrentar essa realidade exige organização e luta. É necessário reverter o Performa, incorporar no salário valores equivalentes à média histórica da PLR e conquistar remunerações fixas dignas, sem depender de remunerações variáveis. Mas essa batalha esbarra na paralisia dos sindicatos que atuam como freio da mobilização mesmo diante da disposição de luta já demonstrada pela base. O banco aposta na divisão geracional, impondo perdas principalmente aos novos contratados e criando uma massa de jovens precarizados. Mas essa mesma juventude pode ser a força capaz de renovar a luta e impulsionar a unidade da categoria.