Restaurantes populares estão fechados há mais de 150 dias em São Carlos (SP)
Ao todo, as quatro unidades da cidade estão fechadas, nos bairros Cidade Aracy, Antenor Garcia, São Carlos VIII e Santa Felícia. O prefeito Netto Donato (PP) afirmou não haver previsão para a reabertura.

Reprodução/Foto: São Carlos em Rede.
Em São Carlos funcionavam quatro Restaurantes Populares oferecendo alimentação balanceada e de qualidade para população de forma subsidiada e com preço acessível. Funcionavam, porque estão fechados há 150 dias, desde maio de 2025, em razão da reforma da cozinha piloto. Ao todo, as quatro unidades da cidade estão fechadas, nos bairros Cidade Aracy, Antenor Garcia, São Carlos VIII e Santa Felícia.
Com o fechamento, cerca de 2000 pessoas – que se serviam das refeições a preços populares – deixaram de ser atendidas. A paralisação, inicialmente prevista para 45 dias, tinha como objetivo adequar a cozinha piloto para que pudesse garantir refeições com maior qualidade e segurança para a população que frequenta esses locais.
Entretanto, a falta de planejamento adequado contribuiu para que a reforma se prolongasse além do prazo previsto, inclusive com aumento dos custos da obra.
Em entrevista à Jovem Pan São Carlos, realizada no dia 4 de agosto, após tergiversar sobre o assunto, o prefeito Netto Donato (PP) afirmou não haver previsão para a reabertura dos restaurantes. Netto Donato, quando questionado sobre os motivos da demora da reforma e sobre a possibilidade de um contrato emergencial para atender a população que dependia das refeições, respondeu que era preciso “mudar o jeito de fazer”, segundo reportagem do São Carlos Dia e Noite.
De acordo com o site São Carlos em Rede, em matéria publicada em 14 de outubro, não há previsão para reabertura dos restaurantes para o ano de 2025, com uma possível perspectiva de retorno ao funcionamento somente no próximo ano.
É inaceitável para a população da cidade que tal situação se estenda da mesma forma, visto que a fome é um problema a ser combatido, e que é uma luta constante garantir à população não apenas o alimento, mas também uma refeição de qualidade e acessível. O vereador Lineu Navarro (PT) tem cobrado uma solução para o problema, mas sem sucesso até o momento.
Em outra reportagem, publicada no site São Carlos Agora em 18 de outubro, o vereador Djalma Nery (PSOL) colocou uma proposta sobre uma parceria entre a Prefeitura de São Carlos, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural e Bem-Estar Animal, com o Instituto Federal de São Paulo (IFSP), que poderia resultar na reabertura de dois dos Restaurantes Populares. O Instituto, atualmente, tem uma parceria com o Restaurante Universitário da UFSCar. Segundo o site do Jornal Primeira Página, a vereadora Fernanda Castelano (PSOL) também enviou um ofício à prefeitura propondo essa parceria. Outra vereadora que vem fazendo críticas ao fechamento dos Restaurantes Populares é Raquel Auxiliadora (PT), ela tem usado suas redes e a tribuna da Câmara Municipal para expor suas críticas e cobrar a gestão municipal.
Sob uma perspectiva mais ampla, é possível relacionar a situação ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2 (ODS 2) que trata da Fome Zero e Agricultura Sustentável. Esses ODS fazem parte da Agenda 2030, formada por 17 objetivos, proposta pela ONU em 2015 a todos os países membros. O Brasil pode até ter saído novamente do Mapa da Fome, mas isso não é suficiente. É preciso garantir que todo cidadão brasileiro possa realizar suas três refeições diárias e com qualidade.
De acordo com dados do IBGE, mais de 2 milhões e meio de domicílios convivem com a fome. Ainda não existem estatísticas sobre os impactos do fechamento dos restaurantes populares em São Carlos, mas há a certeza de que a insegurança alimentar aumentou consideravelmente na cidade. E enquanto não houver um embate direto contra a política burguesa e, principalmente em nosso país, contra o agronegócio, as questões referentes à terra, moradia e segurança alimentar tendem a ficar cada vez mais em risco.
Além disso, a população em situação de rua, que é um dos públicos mais beneficiados e apoiados pela política de restaurantes populares, também enfrenta a instabilidade e o desmonte da Casa de Passagem de São Carlos.
O que vemos por parte dos governos burgueses é a isenção de impostos para grandes empresas, aportes milionários de dinheiro público como “incentivo” a empresas do setor privado que detém a maior porcentagem de lucro no mercado interno e externo. Portanto, é necessário um programa sólido de erradicação da fome, com a nacionalização das terras no Brasil e apoio efetivo aos pequenos e médios produtores, responsáveis por grande parte dos alimentos que chegam à nossa mesa.
São Carlos, apesar de ser uma terra fértil e atravessada pelas águas, hoje está dominada e devastada pelo agronegócio e suas monoculturas de cana, laranja e eucaliptos. Seu povo, sem terra para cultivar vida e alimentos, vem cada vez mais sofrendo com a insegurança alimentar nos centros urbanos.
Enfim, é fundamental chegar a uma solução definitiva: concluir a reforma da cozinha piloto de maneira urgente e prioritária, adquirir novos equipamentos e readequar a distribuição das refeições, garantindo que a população volte a ter acesso a esse importante benefício – e, com ele, a certeza de ao menos uma boa refeição, tanto no almoço, como na janta. Defendemos novos sonhos para São Carlos. Queremos a reativação dos restaurantes populares e abertura de novas unidades. Que os alimentos compartilhados sejam produzidos em nossas terras, pelos assentamentos, acampamentos e comunidades que cultivam a vida na terra sem veneno.