SESI-SP promove demissão em massa após greve
Em resposta aos questionamentos dos professores sobre a adesão à greve, o SINPRO-Bauru orientou que ficassem em casa e descansassem.

Folheto de greve distribuído para os professores e professoras do Sesi durante a mobilização. Foto: SinproSP / Reprodução.
No último mês de junho, professoras e professores da rede SESI-SP foram surpreendidos com uma brutal onda de demissões arbitrárias. Ao todo, foram 65 educadores desligados de suas funções em diversas cidades do Estado de São Paulo. A grande maioria deles participou da mobilização sindical que resultou na greve dos dias 31 de março e 1º de abril.
Para os trabalhadores demitidos e os dirigentes sindicais de luta, não há dúvidas: trata-se de uma retaliação política e perseguição antisindical. O SESI, braço da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), entidade patronal que há décadas se coloca contra qualquer avanço nos direitos dos trabalhadores — dentro e fora do SESI —, está promovendo um ataque frontal ao direito de greve, à organização sindical e à própria dignidade dos educadores da rede.
A greve e a recusa ao diálogo
A paralisação de março foi fruto de uma ampla mobilização organizada por 26 sindicatos, sob coordenação da Federação dos Professores do Estado de São Paulo (FEPESP). A categoria reivindicava reajuste salarial de 2,5% e melhorias nas condições de trabalho. A proposta patronal, no entanto, foi um reajuste real de apenas 0,33%, somada à negativa de qualquer outro avanço econômico ou social.
Mesmo após 11 rodadas de negociação, a intransigência da direção do SESI/FIESP imperou. Em resposta, os professores aprovaram a greve. O movimento ganhou força com ampla adesão de professores, mesmo sem apoio de sindicatos de algumas cidades, paralisando centenas de unidades em todo o Estado.
A repressão viria semanas depois, com o fim do semestre se aproximando e a demissão em massa como resposta à mobilização da categoria.
Demissão como punição: o caso se repete em diversas cidades
As demissões ocorreram em mais de 15 municípios. Em São José do Rio Preto, 10 professores foram desligados. Em Campinas e Jundiaí, cinco em cada cidade. Também foram atingidas unidades em Sorocaba, Tatuí, Valinhos, Limeira, Taubaté, Bauru, Vinhedo, Presidente Prudente, entre outras.
Em Taubaté, o absurdo foi ainda mais escancarado: seis professores foram demitidos arbitrariamente — todos com altas avaliações de desempenho, participação ativa na unidade e reconhecimento dos alunos. Uma delas era diretora eleita do sindicato local, com estabilidade garantida por lei. O SESI alegou “não saber” da sua condição de dirigente sindical. A justificativa é a violação direta da Constituição Federal, que assegura o direito à greve, da legislação trabalhista e da liberdade sindical.
Em Bauru, o drama se intensifica. A unidade, onde trabalhava o professor Wellington*, que também foi demitido, não aderiu oficialmente à greve — não por falta de mobilização dos docentes, mas por abandono total do sindicato local (Sinpro-Bauru). De acordo com os trabalhadores que buscaram apoio da entidade, o sindicato se escondeu, não atendeu ligações, não orientou a categoria e nem abriu suas portas para os educadores em luta.
Wellington*, além de professor do SESI, era ex-aluno da rede. Com quatro anos e meio de dedicação, teve seu vínculo cortado sumariamente. Em seu depoimento, denuncia a desumanização da gestão, a indiferença com os alunos e o caráter persecutório das demissões:
“Fui transformado em um número. A empresa que me formou, depois me descartou. Isso não é gestão, é autoritarismo disfarçado de eficiência.”
Miguel*, que permanece trabalhando em uma das unidades do Sesi Bauru, relatou o clima de tensão instaurado após o anúncio da greve: ameaças veladas, substituição de professores por analistas e ausência de qualquer suporte jurídico por parte do sindicato local. Mesmo sem ter aderido à paralisação, relata que todos os que participaram da mobilização, mesmo que apenas em reuniões ou organização de base, foram identificados e sofreram consequências.
“Medo sempre tivemos, e continuaremos a ter. Mas agora sabemos que estamos sozinhos, a não ser por nossos colegas e pelos movimentos combativos”, afirmou.
Tornando contundente que as demissões foram motivadas pela adesão dos educadores à greve, mesmo sendo um direito garantido por lei, após um mês das demissões, em 13 de julho, o Sesi Bauru publicou em seu perfil na rede social Instagram o anúncio de vagas para professores, dentre elas algumas são para cargos que eram ocupados pelos profissionais demitidos. Ainda mais quando os profissionais não possuíam advertências administrativas, além de serem tidos como profissionais de excelente desempenho por colegas e alunos.

FEPESP e Sesi negam retaliação, mas ações revelam o contrário
O Sinpro Estadual criou uma Comissão de Acompanhamento dos desligamentos e em 13 de junho realizaram uma reunião com representantes da FEPESP e do SESI. Entretanto, o encontro que deveria servir como negociação para reverter as demissões, se mostrou uma coletiva de imprensa das entidades patronais.
Durante as discussões, a Comissão de Acompanhamento abriu mão da defesa dos profissionais demitidos, aceitando as justificativas como verdades absolutas. Fica claro diante das justificativas absurdas da FEPESP e SESI:
● Alegam que respeitam o compromisso assumido na reunião de negociação, ocorrida em abril, que elaborou a proposta que foi levada aos professores em assembleia.
● O número de demissões deste semestre é inferior ao dos anos anteriores, mas metade dos professores demitidos “faltaram” nos dias 30 de março e/ou 01 de abril de 2025.
● De todas as demissões, somente duas seriam reanalisadas, professoras na unidade Campinas e São José do Rio Preto, que possuem legalmente estabilidade.
● As demissões seguiram um protocolo: inicialmente indicadas pela direção da unidade e analisadas pela supervisão da unidade, posteriormente avaliadas pela gerência regional e decididas pela comissão independente de analistas da sede. Esta, criada pela gerência executiva de educação, que analisou pontualmente a respectiva situação, justificativas e a avaliação do docente. Afirmaram que houve, inclusive, indicações de demissões feitas pelas direções das unidades, negadas pelo comitê.
● A gerência executiva de educação orientou que não fossem dadas justificativas aos demitidos, pois, causariam constrangimentos, mas que as demissões deveram-se aos aspectos educacionais e concepções de ensino da rede SESI.
● Não satisfeitos, informaram que poderia haver mais demissões até o fim da semana seguinte, entre os dias 15 a 21 de junho. Portanto, segundo eles, não houve retaliação pela participação no movimento grevista.
É preciso construir sindicatos comprometidos com os trabalhadores
Atualmente, professoras e professores da rede privada de Bauru e cidades vizinhas vivem em completo abandono por parte do SINPRO-Bauru. O mais recente episódio de descaso causado pela atual mesa diretora do sindicato aconteceu com a desmobilização dos professores em aderir à greve, ocorrida no final de março.
Com a orientação de “ficar em casa” e “participar remotamente” de reunião sem nenhuma possibilidade de pressionar os dirigentes das entidades patronais, percebe-se como tática o afastamento da organização de uma luta coletiva em detrimento da atuação única e exclusiva realizada pelos diretores sindicais à portas fechadas.


A atual direção do SINPRO-Bauru (2022-2027) permanece omissa perante as práticas mais rasteiras e ilegais da FEPESP e SESI em relação às condições de trabalho às quais professoras, professores e demais profissionais da educação no setor privado são submetidos. Por esse motivo, é essencial o combate ao caráter servil do SINPRO-Bauru. Somente com a organização em busca de construir uma chapa comprometida com os interesses e bem da classe.
*Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos profissionais entrevistados como forma de evitar futuras retaliações.
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