3ª Marcha Pela Memória Negra ocorre em São Carlos

A 3ª Marcha vem como um espaço para se lembrar que a história racista da cidade está longe de acabar, e conclama para que possamos continuar a luta contra o racismo, não só pelas vias institucionais, mas pela mobilização popular constante.

26 de Novembro de 2025 às 0h00

Comissão organizadora da 3ª Marcha Pela Memória Negra. Foto: Eduardo Zago / Jornal O Futuro.

No último dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra, aconteceu em São Carlos, a 3ª Marcha pela Memória Negra. A marcha foi construída por diversos várias organizações do movimento negro, sendo o PCBR um dos organizadores. O evento é um importante marco para a comunidade negra da cidade, como uma lembrança, não só do passado escravista do Brasil, mas do passado escravista de São Carlos, uma das últimas cidades a abolir a escravidão de maneira legal.

Como em várias cidades do Brasil, há várias iconografias que remetem a figuras que são notoriamente conhecidas como escravagistas. Em São Carlos não é diferente. No começo deste ano, a estátua do Conde do Pinhal, dito “fundador” de São Carlos, foi pichada. Essa ação produziu diversas reações e a própria Fundação Pró-Memória de São Carlos omite o passado escravocrata em sua nota de repúdio: “O Conde do Pinhal é uma figura importante na criação e no desenvolvimento de São Carlos”. Tal repúdio vem com um apelo pela defesa do patrimônio histórico de São Carlos. Mas qual é essa história que vem sendo defendida?!

Final do ato, em frente ao Flor de Maio. Foto: Eduardo Zago / Jornal O Futuro.

Historicamente, a cidade de São Carlos busca ressaltar apenas os grandes figurões da burguesia, que são homenageados em nomes de ruas, escolas, espaços públicos e privados, entre outros. Enquanto isso, a população são-carlense que deu seu suor e seu sangue para a cidade, é esquecida, oprimida e violentada.

A marcha, desde sua primeira realização, tem o trajeto que sai do Centro Municipal de Cultura Afro-Brasileira “Odette dos Santos” e termina no Grêmio Recreativo Flor de Maio. No início da marcha, foram feitas várias intervenções dos organizadores. Durante a marcha, foram clamadas importantes palavras de ordem sobre a luta antirracista no Brasil e, principalmente, na cidade. No fim do evento, além das intervenções culturais no espaço do Flor de Maio, também ocorreram falas da população que estava presente. A maior parte das falas resgatou a importância da data, onde o PCBR também participou ativamente.

A atuação do PCBR durante o evento foi de levantar as questões candentes da luta antirracista no nosso Brasil e em São Carlos para trazer reflexões aos presentes na marcha. Fazendo alusões a como a criminalização da cultura periférica afeta a cidade, como quando, neste ano, a polícia invadiu um evento cultural que acontecia no “Mirante Bar”, agredindo violentamente e prendendo um dos artistas negros que se apresentava no evento, o que resultou em um ato de solidariedade e clamor por justiça em São Carlos. Levantando como essa questão também se relaciona ao constante genocídio da população negra que se utiliza da chamada “Guerra às Drogas” para realizarem suas chacinas, como podemos ver na megaoperação que aconteceu no Rio de Janeiro. Além disso, reforçamos a importância da luta contra o fim da escala 6x1, que afeta principalmente a população negra.

Marcha atravessando a Avenida São Carlos, uma das principais vias da cidade. Foto: Eduardo Zago / Jornal O Futuro.

Também, os militantes presentes pautaram a importância da manutenção dos espaços históricos da população negra, que estão em constante ameaça. Este ano, o clube “Flor de Maio”, clube histórico fundado em 1928 como um espaço de socialização, organização e lazer de negros e negras, que eram excluídas de qualquer espaço recreativo, foi ameaçado com um possível leilão do espaço, sendo um alerta para que a administração pública possa manter este e tantos outros espaços importantes para a comunidade negra são-carlense.

Portanto, a 3ª Marcha vem como um espaço para se lembrar que a história racista da cidade está longe de acabar, e conclama para que possamos continuar a luta contra o racismo, não só pelas vias institucionais, mas pela mobilização popular constante. Um espaço importante para aprofundarmos as razões da importância da luta antirracista constante, e como esta luta está enraizada a luta anticapitalista e só através de pautarmos as bandeiras máximas que o movimento comunista no Brasil e no mundo que iremos superar o racismo.