Breque dos Apps mobiliza mais de 100 cidades no Brasil
Apesar da tentativa de desmobilização da paralisação por parte das plataformas, entregadores apontam para a força da categoria e continuidade das mobilizações.

Primeiro dia de mobilização dos entregadores em Belo Horizonte (MG). Foto: Jornal O Futuro.
Por Marcelo Hayashi
Entregadores de todo o Brasil realizaram o "Breque Nacional dos Apps 2025”, uma paralisação massiva contra a exploração das plataformas, nos dias 31 de março e 1º de abril. O movimento ocorreu em mais de uma centena de cidades, incluindo todas as capitais, e teve impactos diretos no funcionamento dos aplicativos e na repercussão midiática, dando visibilidade às pautas dos entregadores.
Em diversos estados, restaurantes relataram quedas de até 100% nos pedidos via delivery e grandes centros registraram apagões de entregadores, mostrando a força da categoria quando decide parar. Esse processo de mobilização é importante para as lutas da classe trabalhadora, pois trazem o impacto direto ao lucro do setor privado e dos bilionários de cada setor onde houve paralisação.
Em comunicado realizado pelo Comando Nacional do Breque dos Entregadores 2025, publicizado no dia 04 de abril (quarta-feira), foi relatado que nenhuma das empresas de aplicativo se pronunciou sobre a paralisação ou abriu qualquer diálogo com os trabalhadores. O silêncio delas deixa claro que a indignação da categoria não vale mais do que os lucros bilionários que acumulam explorando o trabalho dos entregadores.
Além de ignorarem as pautas da categoria, as plataformas adotaram uma série de práticas para desmobilizar a greve, conforme relatado pelo Comando Nacional:
● Promoções e incentivos falsos para manter entregadores rodando durante o breque;
● Abertura emergencial de novos cadastros, jogando mais pessoas na precarização para cobrir os grevistas;
● Pressão direta sobre os entregadores, com mensagens, avisos nos aplicativos e até ameaças de bloqueio para quem parasse de trabalhar;
● Monitoramento das redes sociais e de grupos de WhatsApp, tentando enfraquecer a mobilização com desinformação e intimidação.
Apesar de todas essas tentativas de enfraquecer a luta, o Breque foi forte e expôs a dependência das empresas em relação ao trabalho dos entregadores, demonstrando que a classe trabalhadora organizada pode trazer novos ares para a luta de classes e a disputa por uma nova sociedade.
Além disso, há relatos de que o iFood tratou os dias 31 de março e 01 de abril como um cenário de criticidade. A empresa entende que, idealmente nesses dias, deveria haver cerca de 30 mil entregadores nas ruas, porém o número foi bem abaixo do esperado. No mesmo dia, a variação de supply e de demanda da empresa, na região da grande São Paulo, ficou bem abaixo do esperado, com o supply chegando a -90% e a demanda a -98% do que o corriqueiro.
Diversos estabelecimentos pelo país fecharam suas lojas no iFood para se solidarizar com a luta dos entregadores, demonstrando sua consciência de classe e seu apoio às pautas elencadas.
Cobertura nacional do jornal O Futuro
Na cobertura realizada pelo jornal O Futuro, cobrimos a paralisação nas cidades de: Belém (PA); Belo Horizonte e Juiz de Fora (MG); Niterói e Rio de Janeiro (RJ); Osasco/São Paulo, São Carlos e Sorocaba (SP); e Santa Maria (RS).
Em todas essas cidades, as pautas nacionais foram unificadas, porém trazendo também os problemas particulares da categoria em cada local. Por exemplo, as dificuldades de trajeto nas grandes cidades são mais complexas para os entregadores de bike, enquanto que nos interiores observamos uma maior dificuldade com os pontos de apoio e descanso, dado a ineficácia e despriorização das plataformas fora dos grandes centros urbanos.
A cobertura em vídeo pode ser acompanha na página de Instagram do nosso jornal: Jornal O Futuro no Instagram
Agradecimento aos apoiadores
Em nota do dia 04 de abril, o Comando Nacional agradeceu o apoio dado a sua luta. Confira na íntegra:
O Comando Nacional do Breque dos Entregadores 2025 agradece a todos os entregadores que pararam e demonstraram que a categoria tem força quando se une. Também expressamos nosso reconhecimento aos coletivos, movimentos sociais e pesquisadores que se somaram à luta, amplificando a voz dos trabalhadores e denunciando a exploração das plataformas.
Se as empresas pensam que o Breque acabou, estão enganadas. A luta continua.
Comando Nacional do Breque dos Entregadores 2025
Próximos passos da categoria
A paralisação foi suspensa até a Plenária Geral dos Entregadores, que acontecerá no dia 9 de abril (quarta-feira). Na ocasião, a categoria avaliará os impactos da mobilização e decidirá os próximos passos da sua mobilização. Foi orientado pelo Comando Nacional que entregadores de todo o país deverão manter a pressão contra as plataformas, seguindo as seguintes diretrizes:
● Rejeitar corridas abaixo de R$ 8,00 (exceto bike, que deve rejeitar pedidos acima de 3 km);
● Rejeitar pedidos agrupados, que aumentam o trajeto sem aumento justo no pagamento;
● Realizar paralisações pontuais, organizadas pelo Comando e comunicadas com algumas horas de antecedência.