Governistas acreanos participam da COP 30

Apesar dos discursos de “desenvolvimento sustentável”, o estado do Acre é marcado por uma política anti ambiental. 

21 de Novembro de 2025 às 21h30

Prefeito de Rio Branco (Ac), Bocalom (PL), em estande na Cop 30. Foto: Ailton Oliveira/Secom

Por Pedro Ravi

O governador do Acre, Gladson Cameli (PP), e o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom (PL), marcaram presença nos primeiros dias da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), que está sendo realizada em Belém. Ambos utilizaram suas estruturas de comunicação para se apresentar como defensores do clima, embora suas gestões sejam marcadas pela defesa da expansão da fronteira agrícola, pelo avanço sobre áreas de floresta e por posições alinhadas ao agronegócio e ao negacionismo climático.

Cameli participou da abertura oficial da conferência, no dia 10 de novembro, afirmando que a COP seria uma “oportunidade para que o Acre mostre ao mundo seu potencial ambiental e seu compromisso com o desenvolvimento sustentável”. O governador vem buscando projeção internacional desde a 15ª reunião do GCF Task Force, grupo que reúne países detentores de 80% das florestas tropicais. Nesse contexto, tem se apresentado como liderança nas negociações de clima, de olho em financiamentos ligados aos mercados de carbono - área em que a Coalizão LEAF demonstrou interesse no Acre.

O prefeito Tião Bocalom também integrou a programação, participando de mesas no dia 12 para relatar sua suposta experiência em “gestão sustentável”, incluindo o manejo florestal baseado na exploração madeireira.

A participação das autoridades ocorre em meio a um cenário em que a própria COP tem sido criticada por abrir espaço para práticas de greenwashing promovidas por grandes conglomerados, especialmente do setor petrolífero. Ao longo dos anos, empresas e governos têm buscado projetar uma imagem de compromisso climático enquanto mantêm modelos de exploração mineral e expansão agropecuária que aprofundam a crise ambiental.

Apesar dos milhões investidos em publicidade pelo governo federal, a Conferência do Clima tem funcionado, na prática, como uma vitrine para a venda da floresta, de terras raras e de outros minérios estratégicos a empresas transnacionais e governos estrangeiros. Na COP30, o agronegócio brasileiro ocupou espaço central: empresários da Bayer foram credenciados como delegados oficiais, e painéis inteiros foram dedicados à construção da imagem de um “agronegócio sustentável” - narrativa que ignora o avanço do modelo agroexportador sobre territórios indígenas e áreas de floresta.

Nesse ambiente marcado pela presença massiva do mercado e do setor agropecuário, não faltaram representantes políticos alinhados ao latifúndio. Autoridades acreanas estiveram em mesas de debate e eventos paralelos, mesmo que suas gestões estejam diretamente associadas à expansão da pecuária, do plantio de soja e da exploração madeireira em áreas de floresta nativa. Esses empreendimentos, frequentemente envolvidos em grilagem, trabalho análogo à escravidão e violência contra populações camponesas, extrativistas e indígenas, têm sido beneficiados por políticas estaduais e municipais.

Os impactos desse modelo são evidentes. Rio Branco registrou, no segundo semestre de 2024, uma das piores qualidades do ar do mundo, com níveis de toxicidade 13 vezes acima do limite considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde. O quadro foi provocado pelas queimadas destinadas à abertura de áreas para pecuária e soja, responsáveis por liberar milhares de toneladas de poluentes na atmosfera. No mesmo período, o Acre registrou aumento de 31% no desmatamento, segundo dados do MapBiomas - mais um indicativo da crise ambiental que avança enquanto o discurso oficial propaga sustentabilidade.

Também pesa nesse cenário a conivência do governo Lula, que destinou cerca de meio trilhão de reais ao agronegócio por meio do Plano Safra e tem avançado na privatização das hidrovias dos rios Madeira, Tapajós e Tocantins. As obras, apresentadas como soluções logísticas, têm como objetivo principal acelerar o escoamento da produção de soja rumo ao mercado chinês, aprofundando o modelo agroexportador e ampliando a pressão sobre a floresta amazônica.

Sob o discurso de compromisso climático, empresas patrocinadoras da COP30 negociam diretamente com autoridades brasileiras, firmando acordos que impactam de forma decisiva comunidades ribeirinhas, extrativistas, indígenas e camponesas. Esses grupos são os mais vulneráveis à contaminação dos rios, à perda de territórios e à destruição de seus meios de subsistência, efeitos colaterais invisibilizados nos anúncios oficiais de sustentabilidade.