O protagonismo histórico das mulheres no setor da tecnologia

No Brasil, a busca por igualdade de gênero na tecnologia exige medidas concretas, como equiparação das licenças parentais e cotas de gênero no corpo funcional como um todo e em cargos de liderança.

8 de Novembro de 2025 às 15h00

Grace Hopper desempenhou um papel central na criação do COBOL (Common Business-Oriented Language). Foto: Reprodução/UFRGS.

Apesar de terem sido protagonistas no desenvolvimento da Tecnologia da Informação (TI), com nomes como Ada Lovelace e Grace Hopper, as mulheres ocupam apenas 23,2% dos postos de trabalho em tecnologia no Brasil, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego. Com a valorização econômica e social da área ao longo do século XX, a TI foi sendo reconfigurada como espaço “masculino”, empurrando as mulheres para fora desse campo em transformação.

A desigualdade atravessa empresas públicas e privadas. Na Serasa Experian, multinacional privada de tecnologia de dados, apenas 27% dos trabalhadores de TI são mulheres. Na Diretoria de Tecnologia do Banco do Brasil, elas são só 17,2%; e a tendência é de maior retrocesso, pois entre os 606 concursados que tomaram posse no primeiro semestre de 2025, apenas 10,7% eram mulheres. Já no último concurso do Banco Central, o cenário é ainda mais crítico: apenas 9% dos aprovados para cargos de TI são mulheres.

Essa sub-representação cria um ambiente frequentemente hostil, marcado por preconceitos, isolamento e falta de reconhecimento. Em resposta, surgem iniciativas auto-organizadas, como o Movimento Mulheres na TI, formado por funcionárias do Banco do Brasil que promovem mentorias e redes de apoio para incentivar a entrada e a permanência de mulheres na área.

Do lado institucional, porém, as ações ainda são tímidas. O Brasil já obteve avanços significativos em programas de cotas raciais, que ajudaram a reduzir desigualdades no mercado de trabalho e nas universidades. Mas as ações afirmativas de gênero continuam escassas e, quando existem, costumam se concentrar no setor privado. No setor público, prevalece o argumento de que os concursos inviabilizam esse tipo de política, embora alguns editais recentes já incluam algum tipo de ação afirmativa de gênero.

Outro obstáculo central à permanência das mulheres na carreira é a licença-parental desigual. No Brasil, mães têm até seis meses de afastamento, enquanto pais têm um máximo de apenas 20 dias. A diferença reforça padrões de gênero e empurra muitas mulheres para fora do mercado formal. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mais de 40% das mães deixam o emprego até um ano após a licença-maternidade, chegando a quase 50% quatro anos depois.

A disparidade contrasta com países nórdicos, onde a corresponsabilidade parental é regra. Na Islândia, cada genitor tem direito a seis meses de licença, com seis semanas transferíveis. Na Suécia, o total é de 480 dias, sendo 90 obrigatórios para cada um.

No Brasil, a busca por igualdade de gênero na tecnologia exige medidas concretas, como equiparação das licenças parentais e cotas de gênero no corpo funcional como um todo e em cargos de liderança. Essas são medidas que podem ser implementadas inclusive em negociações coletivas. A história já provou que as mulheres são essenciais na tecnologia. O que falta agora é derrubar as barreiras estruturais que ainda as mantêm em minoria.