Favela da Bratac, em Londrina (PR), sofre com violência policial e ameaças

Depois de 5 meses do caso Kelvin e Wender, assassinados em fevereiro em um episódio de letalidade policial, a mobilização continua e recebe o apoio de antigas e novas lutas por justiça.

9 de Agosto de 2025 às 0h00

Barricada em justiça por Kelvin e Wender. Reprodução/Foto: Justiça por Almas.

No dia 15 de fevereiro a Favela da Bratac, em Londrina, foi palco de mais um episódio de letalidade policial no Paraná, vitimando dois jovens inocentes, entre eles um menor de idade. Reiteradamente as comunidades têm sua paz tirada, e a juventude suas vidas roubadas, pela ação da polícia, que implanta um verdadeiro terror nas periferias do Brasil.

O estado do Paraná é um dos que mais cresce em estatísticas de assassinatos cometidos por policiais, subindo 19% só em 2024, mesmo frente a esses altos índices e à pressão popular, o governo se recusa a dialogar e arbitrariamente descarta audiências públicas, aliado a isso, 1 a cada 10 casos de execução no estado pertencem à Londrina, conhecida nacionalmente pelas chacinas, por trás desses dados há uma série de medidas políticas adotadas pelos governos que fortalecem a polícia enquanto uma máquina do Estado burguês responsável por controlar e violentar a classe trabalhadora.

Não é novidade que o governador Ratinho Jr é um grande entusiasta da militarização e repressão tocada pela força policial, o mesmo acontece a nível municipal de Londrina, onde o recém prefeito Tiago Amaral, junto à Câmara de Vereadores recheada da bancada da bala, realiza a Operação Choque de Ordem, instalando postos da Guarda Municipal por toda a cidade e dando marcha a um projeto de militarizá-la.

Ainda no ano passado, a prefeitura cortou R$ 20 milhões da Secretaria da Saúde para financiar o aumento de 27,12% do salário dos guardas municipais, quer dizer, cada vez mais nosso dinheiro – e nossos serviços, como as escolas públicas – é desviado para uma instituição que não nos protege, ao contrário, atenta contra nossas comunidades, em outras palavras, os policiais têm seus salários aumentados e ganham bonificações como prêmios pela ``bravura`` de promover a violência contra a população.

De forma conivente, os órgãos públicos e a mídia – em especial, o sensacionalismo policial – assumem uma narrativa de legitimação das violências policiais sob o argumento de confronto, impedindo que a justiça impere e os culpados sejam devidamente punidos, entretanto, a polícia recebe treinamento militar, armas de guerra, apoio de agentes públicos e dos grandes veículos de comunicação, altos investimentos do governo e proteção judiciária do Estado, ou seja, ela tem passe livre e meios materiais para chegar atirando e forjando confrontos inexistentes, então a reflexão deve ser feita: que confrontos são esses que só morre um lado?

Diante desse cenário, no mês dos homicídios na Bratac, populares transformaram o luto em luta e pararam a cidade com protestos por toda parte, inclusive em penitenciárias, e barricadas em mais de 10 avenidas, que se estenderam durante a noite inteira e obrigaram a paralisar a circulação do transporte coletivo, outras manifestações ocorreram durante dias, incluindo a ocupação do Ministério Público, mostrando o poder da luta popular. Não à toa, foram enviadas 100 viaturas da Choque diretamente da capital para conter a população, que foi altamente reprimida, chegando a ter manifestantes presos.

Depois de 5 meses do caso Kelvin e Wender, a mobilização continua e recebe o apoio de antigas e novas lutas por justiça, em contrapartida, na tentativa de cercear o movimento, a Bratac sofre contínua repressão policial, em que já tiveram mães sendo presas, crianças agredidas, casas invadidas e diversos outros tipos de barbárie que se possa imaginar, consolidando uma perseguição da população que ali mora, essa é a realidade das favelas brasileiras quando unem gritos de socorro contra as injustiças que vivenciam.

A verdade precisa ser dita: a favela da Bratac está sofrendo uma ocupação policial e sendo feita de refém para calar a voz de revoltosos que denunciam as covardias cometidas a mando do Estado Burguês, apesar das tentativas, o povo tem resistido e continuado firme na defesa de seus direitos.

A repressão policial é uma das faces da guerra que o sistema capitalista trava contra a classe trabalhadora cotidianamente, devemos fortalecer os movimentos das favelas, dos guetos e vielas através do enfrentamento frontal e radical ao Estado, e ao poder econômico que o sustenta, partindo da luta pela desmilitarização e desfinanciamento das polícias, bem como, enfrentando a lógica de “guerra às drogas”, a criminalização da pobreza – e da cultura periférica – e a violência racista, enraizando nas bases a necessidade de construir uma segurança pública mediante a mais ampla participação democrática-direta e controle comunitário.